Aos 87 anos, faleceu o único escritor portuguêsque ganhou o prémio Nobel de Literatura.
José Saramago, além de ganhar o prémio Nobel de Literatura (1998), é considerado responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Entre as suas maiores conquistas também está o Prémio Camões, o mais importante da literatura em Portugal.Em Saramago, essas dimensões de mestre do romance e de activista político e social se imbricavam sem que uma tolhesse ou recalcasse a outra. Foram sempre a expressão de uma personna criativa e combativa, rica de uma humanidade onde percebemos a sabedoria dos simples de coração, o humor, a luta dos deserdados, a crítica social e dos (hipócritas) costumes, a denúncia da cegueira de um mundo onde a morte inspira a política do capital, o alerta a respeito da alienação colectiva dos seres humanos, embrutecidos na malha da indústria cultural da incultura.
Na epígrafe de As Intermitência da Morte escreveu: "Sabemos cada vez menos o que é um ser humano". Este é o grande tema dos seus últimos livros? É que não há nada mais: o valor do ser humano, da vida humana, cada um por si e por todos. É a primeira coisa que há que respeitar, reconhecer e valorizar..
Reconheço que ao lado de Fernando Pessoa, e Eça de Queiroz, Miguel Torga, Vergílio Ferreira José Saramago elevou a língua portuguesa ao merecido lugar entre as grandes manifestações culturais da Humanidade ao receber, com grande mérito, o Nobel de Literatura de 1998, que como se sabe tem conotações muito politiquizadas.
Sem dúvida, o mais importante é salientar que Saramago fica para a posteridade essencialmente devido a razões literárias de renovação do género romanesco via um inusitado estilo de oralização da escrita, um reequacionamento do passado nacional pela óptica da nouvelle histoire (da "arraia-miúda" ) e uma capacidade de construção de poderosas alegorias distópicas. Social e ideologicamente, tais razões literárias transformam-se numa espécie de admoestações aos donos do poder acerca da podridão e da instabilidade das relações sociais de produção em que assenta o seu domínio.
Além da saudade, o escritor deixa um legado importante para literários, historiadores e fãs de suas obras. Entre tantas relíquias estão os romances “Terra do Pecado” (1947), “Manual de Pintura e Caligrafia” (1977), ” Levantado do Chão” (1980), “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “História do Cerco de Lisboa” (1989), “O evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991), “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995), “Todos os Nomes” (1997), “A Caverna” (2000), “O Homem Duplicado” (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), “As Intermitências da Morte” (2005) e “A Viagem do Elefante” (2008) e “Caim” (2009).
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